Obras citadas
O uso de imagens, sons e textos apanhados da internet, da literatura e do cinema foi um dos recursos utilizados para a elaboração deste trabalho. No que tange a parte escrita, pequenos trechos literários retirados de livros e filmes foram distorcidos e inseridos ao contexto de cada história. Esses furtos funcionam como menções textuais escondidas que apontam às diversas vozes com as quais a produção textual desta pesquisa conversa.
A seguir, há uma lista de versos, frases e palavras exatos e suas respectivas referências na ordem em que aparecem em cada capítulo:
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Aliceâ
âïž Alice passa,
passa por tudo
“Alguém sobe as escadas. Vem, vem sem parar. Fica aí, fica aí por um longo tempo, segue adiante. E novamente a rua. Uma mocinha grita: Ah tais-toi, je ne veux plus. O elétrico chega correndo, todo agitado, passa, passa por tudo.”
(Rilke, 2011, p.8)
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âïž inquietante metamorfose
“Ninguém melhor do que ele [Rilke] representou o mal-estar do homem frente à inquietante metamorfose dos objetos mais familiares”.
(Agamben, 2007, p.81)
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âïž Alice se debatia,
danando por se ver tão
aprofundada
empurrada sacudida
revirada
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“O menino agarrara a irmã na boca do corredor. Brincalhão, bem disposto como sempre. E machucador. Porém não fazia de propósito, ia brincar e machucava. Cingia Maria Luísa com os braços fortes, empurrava-a com o peito, cantarolando bamboleando no picadinho. Ela se debatia, danando por se ver tão mais fraca. Empurrada sacudida revirada.”
(Andrade, 2013, p.22)
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âïž Que medo de estar caindo no vazio
“- Fico imaginando como é ver Tóquio ali de cima.
- Eu não.
- Por que não?
- Eu ficaria com medo.
- Medo de quê?
- De morrer, eu acho. De cair no vazio.”
(Enter the void, 2009)
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John
âïž Ao despertar do sonho agitado naquela manhã, em sua cama, John viu-se transformado.
“Ao despertar de sonhos agitados certa manhã, em sua cama, Gregor Samsa viu-se transformado em um inseto monstruoso.”
(Kafka, 2018, p. 5)
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âïž as beiradas prateadas.
“(agora, passa uma pomba, e parece que um pardal)
[...]
(agora passam duas menorzinhas, com as beiradas prateadas).”
(Cortázar, 2009, p. 62-63)
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Bas
âïž Seus olhos caem sobre aquela forma fantasma como duas águias, dois saltos no vazio, duas rajadas de gozo.
“Todo o vento dessa manhã (agora soprava de leve, e não fazia frio) havia passado por seu cabelo louro que recortava seu rosto branco e sombrio - duas palavras injustas - e deixava o mundo de pé e horrivelmente sozinho diante de seus olhos negros, seus olhos que caíam sobre as coisas como duas águias, dois saltos no vazio, duas rajadas de lodo verde.”
(Cortázar, 2009, p. 65)
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âïž De dentro, sentimos com ele a expectativa aguçada da espera. A pele um pouco escamada, os pelinhos finos ouriçados. Ele quer imobilizar o universo, sente que poderia. Ao mesmo tempo que teme ser interrompido por uma folha que chegue com o vento em sua cara, ou que sua respiração, ou um gesto qualquer quebre o feitiço e o faça cair novamente na distância e no vácuo das palavras.
“Eu esperava e na expectativa, todos os sentidos aguçados, eu desejaria imobilizar todo o universo, temendo que uma folha se movesse, que alguém nos interrompesse, que minha respiração, um gesto qualquer quebrasse o feitiço do momento, desvanecesse-se e fizesse-nos cair novamente na distância e no vácuo das palavras.”
(Lispector, 2016, p.50)
âïž o sangue latejando surdamente nos pulsos, no pau, na testa.
“O sangue latejava-me surdamente nos pulsos, no peito, na testa.”
(Lispector, 2016, p.50)
âïž É mais uma careta feia, uma feição torcida com uma nota grotesca.
“Os cabelos soltos, úmidos de suor, caíam-me sobre o rosto afogueado e a dor, a que minha fisionomia, durante longos anos calma, ainda não se habituara, deveria torcer minhas feições, emprestar-lhes alguma nota grotesca”.
(Lispector, 2016, p.51)
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Yves
âïž está fora do plano do sentido herdado; está finalmente estirado sobre o terreno do não saber!
“O não saber, a partir desse gesto soberano de declarar-se fora do sentido já herdado, é de todo contrário ao analfabetismo como condenação social. É um gesto de insubmissão em relação à compreensão e à aceitação dos códigos, das mensagens e dos argumentos do poder.”
(Garcés, 2019, p.47-48)
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âïž O homem, cego pela consciência, é incapaz de olhar o mundo.
“Não é o animal que é cego. Mas o homem, cego pela consciência e incapaz de olhar o mundo. ‘O que está fora’, escreveu Rilke, ‘nós só sabemos pelo rosto animal’. E Darwin, citando Buffon, afirma que o cão é o único ente na Terra que o ama mais do que a si mesmo.”
(Adeus à linguagem, 2014)
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âïž Yves sentiu uma estranha ascensão. Seu corpo teimou em não cair e aprendeu a voar na queda.
[...]
Afinal, a queda deixou de cair.
“Pois essas frases ainda soarão quando a queda deixar de cair e o corpo sentir essa estranha ascensão do que teima em não morrer mesmo quando se está em queda, do que aprende a voar na queda, batendo os dentes uns nos outros em ritmo de síncope.”
(Safatle, 2024, p.148)